Culpas e revelações

 Ela se sentia culpada depois de ter transado com aquele colega de trabalho no motel ali perto. Sentada na mesma mesa em que a convidei para tomar um café comigo pela primeira vez anos atrás, ela olhava sem jeito para a xícara entre as mãos: “Não sei, amor, só me parece errado. Há dois meses de me casar com o homem que eu amo, eu transo com outro com quem eu nunca teria nada sério...”

Em frente a ela, do outro lado da mesa, eu a observava de olhos baixos. “Você não gostou, amor?” perguntei. “Não, amor, não é isso! Gostei, sim: ele me tratou bem, foi carinhoso comigo, gozei duas vezes... é só não me parece certo, sei lá!” Deslizei as mão por cima da mesa e segurei carinhosamente as suas: “Não é certo com quem, meu amor? Como o homem que você ama e que vai construir uma vida ao seu lado? É justamente esse homem que quis que você transasse com outro e que agora está ainda mais convencido de que você é a mulher da vida dele.” Ela levantou os olhos esboçando um sorriso no canto dos lábios: “Jura?” Respondi que sim com a cabeça.

“Você tem medo?” perguntei e ela, já mais à vontade, respondeu: “Medo, não, mas tenho receio de gostar mais do que eu esperava, de transar com os caras errados...” Quis saber mais sobre o que ela considerava um cara errado e ela continuou: “Desde que você me pediu para transar com pelo menos um outro homem antes de a gente casar, eu não consigo ter aquela barreira que faz alguns homens serem invisíveis para mim: qualquer homem que me atraia invade minha imaginação, até alguns que eu não deveria ver como homens...” Entendi aonde aquela conversa estava indo e perguntei: “Alguém que a gente conheça? Algum amigo nosso?” Ela baixou novamente os olhos e eu disse que tudo bem, que ela podia me contar quem eram esses homens e sem hesitar, mas sem levantar os olhos, ela falou segura e pausadamente uns cinco nomes, um deles bem próximo de nós.

Tranquilizei-a dizendo que tudo bem, mas ela continuou: “Eu sempre sonhei casar, ter filhos com um homem que eu amo, construir uma relação profunda e duradoura, sabe?” Puxei suas mãos para junto de mim e beijei-as: “Eu também, meu amor, e não abro mão de viver isso com você, mas também sonhei com minha amada transando de pé na cozinha com um dos nossos amigos, que volte para uma festa cheia de amigos arrumando o vestido e apresente aos meus pais o homem com quem acabou de trepar no banheiro como ‘um amigo muito querido’... e nunca imaginei outra mulher que não fosse você nesse lugar.” Ela puxou as nossas mãos juntas e beijou as minhas: “Essa mulher sou eu, meu amor: a que vai ter filhos com você e a que vai dar para os seus amigos no banheiro, na cozinha e onde mais você quiser...”